Sentir o ritmo cardíaco acelerado pode assustar — e com razão. A taquicardia acontece quando a frequência cardíaca em repouso ultrapassa 100 batimentos por minuto (bpm) e pode ter desde causas benignas, como exercício e ansiedade, até arritmias que exigem tratamento específico. Entender o que causa a taquicardia, como reconhecer sinais de alerta e quais exames confirmarão o diagnóstico é essencial para tomar decisões rápidas e seguras.
O que é taquicardia e quando preocupar
A taquicardia é um aumento da frequência cardíaca em repouso acima de 100 bpm. Nem toda aceleração é doença: o corpo acelera o coração para entregar oxigênio em situações como exercício, febre, estresse ou cafeína (chamada de taquicardia sinusal). O alerta acende quando o ritmo vem de arritmias (problemas no sistema elétrico do coração) ou quando a aceleração aparece em repouso, sem motivo aparente, acompanhada de dor no peito, falta de ar, tontura ou desmaio.
A regra de ouro: se o coração acelera com sintomas intensos ou por tempo prolongado, procure avaliação imediata.

Tipos comuns de taquicardia (e por que isso importa)
Saber o tipo de taquicardia orienta a conduta. Abaixo, um resumo:
Taquicardia sinusal
- O que é: resposta natural do marcapasso do coração (nó sinusal) a estímulos como exercício, febre, ansiedade, dor, desidratação, cafeína, gestação, anemia ou hipertireoidismo.
- Sinal de alerta: quando é inadequada (muito alta em repouso, sem causa clara), chama-se taquicardia sinusal inapropriada.
Taquicardias supraventriculares (TSV/SVT)
- Onde nascem: nas câmaras superiores (átrios).
- Exemplos: TPSV/PSVT, flutter atrial, fibrilação atrial.
- Como se manifestam: palpitações súbitas, sensação de “bate-bate” no peito; às vezes melhoram com manobras vagais (respiração e esforço tipo Valsalva).
- Tratamento: pode incluir adenosina em ambiente médico, antiarrítmicos e, em casos recorrentes, ablação por cateter.
Taquicardias ventriculares (TV)
- Onde nascem: nos ventrículos.
- Gravidade: podem ser potencialmente fatais, exigindo cardioversão e investigação de doença estrutural do coração (ex.: infarto prévio, cardiomiopatias).
Tabela comparativa: principais taquicardias
| Tipo | Onde surge | Possíveis causas | Risco | Condutas típicas |
|---|---|---|---|---|
| Taquicardia sinusal | Nó sinusal | Exercício, febre, ansiedade, dor, anemia, hipotensão, cafeína, fármacos | Baixo (depende da causa) | Tratar causa, hidratar, reduzir estimulantes |
| SVT/PSVT | Átrios/junção AV | Vias elétricas acessórias, reentrada | Variável | Manobras vagais, adenosina, ablação se recorrente |
| Flutter/Fibrilação atrial | Átrios | Idade, hipertensão, apneia do sono, tireoide | AVE/embolia | Controle de frequência/ritmo + anticoagulação conforme risco |
| Taquicardia ventricular | Ventrículos | Doença estrutural, isquemia, cardiomiopatias | Alto | Cardioversão, antiarrítmicos, CDI, tratar a causa |
Causas de ritmo cardíaco acelerado: do cotidiano às doenças
- Fisiológicas (normal do corpo): atividade física, emoções, estresse agudo, calor, desidratação, cafeína, nicotina, álcool.
- Clínicas e hormonais: febre, infecções, anemia, hipertireoidismo, hipoglicemia, gravidez, apneia do sono.
- Cardíacas/arrítmicas: flutter, fibrilação atrial, taquicardia ventricular.
- Medicamentos e substâncias: descongestionantes com pseudoefedrina, alguns broncodilatadores, suplementos “pré-treino”, drogas estimulantes (p.ex., cocaína, anfetaminas).
Dica prática: se a taquicardia aparece sempre após café forte, pré-treino ou noites mal dormidas, investir em higiene do sono, hidratação e redução de estimulantes costuma ajudar — mas não substitui avaliação médica quando há sintomas relevantes.
Sintomas de taquicardia (e sinais vermelhos)
- Comuns: palpitações, frequência cardíaca alta percebida no pulso, sensação de “vibração” no peito, ansiedade, cansaço.
- De gravidade: dor ou pressão no peito, falta de ar, tontura intensa, desmaio, palidez, sudorese fria. Nessas situações, procure emergência.
Como o médico diagnostica: do pulso ao eletro
O diagnóstico começa com história clínica e exame físico, incluindo contagem de pulso e pressão arterial. Os exames mais usados são:
- Eletrocardiograma (ECG): confirma o tipo de taquicardia.
- Holter/monitor de eventos: registra arritmias intermitentes ao longo de 24h ou mais.
- Ecocardiograma: avalia a estrutura e função do coração.
- Exames laboratoriais: hemograma (anemia), eletrólitos, tireoide, marcadores de inflamação.
- estes específicos: estudo eletrofisiológico (quando se considera ablação).
Tratamentos: do autocuidado à ablação por cateter
O tratamento depende do tipo e da causa.
Medidas de autocuidado (casos leves, sem sinais de gravidade)
- Hidratar-se e corrigir desidratação.
- Reduzir cafeína, álcool e nicotina.
- Dormir melhor (higiene do sono). Respiração diafragmática, mindfulness e manejo do estresse.
- Tratar febre e infecções.
Tratamentos médicos
- Manobras vagais (orientadas por profissional) para Taquicardias supraventriculares.
- Adenosina em Taquicadia supraventricular regular de complexo estreito (ambiente monitorado).
- Betabloqueadores ou bloqueadores de canal de cálcio para controle de frequência. Antiarrítmicos específicos conforme o caso.
- Cardioversão elétrica em taquiarritmias instáveis.
- Ablação por cateter: cura muitas Taquicardias supraventriculares e alguns flutters com altas taxas de sucesso.
- CDI (desfibrilador implantável) em pacientes com risco para Taquicardia Ventricular grave.
Quando ir à emergência sem esperar
Procure atendimento imediato se houver taquicardia acompanhada de:
- Dor no peito, falta de ar, desmaio ou quase-desmaio.
- Episódio mais longo do que o habitual em quem já tem diagnóstico de Taquicardia supraventricular.
- Frequência persistentemente >150–160 bpm em repouso, sobretudo com mal-estar.
Prevenção e estilo de vida: como reduzir episódios
- Hidrate-se (água ao longo do dia).
- Sono: 7–9 horas/noite, horários regulares.
- Evite estimulantes em excesso (cafeína, energéticos, nicotina). Gerencie o estresse: respiração 4-7-8, meditação, pausas ativas.
- Exercício regular (aeróbico + força) — com liberação médica se você já teve arritmias.
- Trate condições de base: anemia, tireoide, apneia do sono, hipertensão.
Mitos e verdades sobre frequência cardíaca alta
- “Todo ritmo acelerado é perigoso”: Mito. Nem toda taquicardia é arritmia; muitas são respostas fisiológicas.
- “Se eu fizer força para tossir, passa”: Parcial. Algumas Taquicardias supraventriculares respondem a manobras vagais, mas isso deve ser orientado por profissional e não substitui atendimento se houver sintomas graves.
- “Taquicardia Ventricular (TV) sempre mata”: Mito. É grave, mas há tratamentos eficazes (cardioversão, antiarrítmicos, CDI).
Casos especiais: esportes, gravidez e doenças estruturais
- Atletas: podem ter variações de frequência em repouso e respostas intensas no treino. Avaliação é importante quando há palpitações com tontura ou desmaio.
- Gravidez: aumento de volume sanguíneo e hormônios podem elevar os batimentos; investigue se houver sintomas ou arritmia prévia.
- Cardiopatias estruturais (ex.: pós-infarto, Miocardiopatia hipertrófica): maior risco de TV e eventos — exigem seguimento especializado e, às vezes, CDI.
Conclusão
Taquicardia é um sinal — e, às vezes, pode representar uma arritmia — com várias causas. Distinguir respostas fisiológicas (ex.: exercício, febre) de taquiarritmias (ex.: Taquicardia supraventricular ou Taquicardia Ventricular) é crucial para agir com segurança. Se você sentir ritmo cardíaco acelerado acompanhado de dor no peito, falta de ar, tontura ou desmaio, procure emergência. Para os demais casos, investigar a causa e ajustar estilo de vida. Consulte sempre um cardiologista para um plano individualizado.
Aviso médico: este conteúdo é educativo e não substitui avaliação profissional. Em emergências, procure atendimento imediato.





