Dr. Aézio Magalhães - Cardiologista especialista em medicina esportiva

Ritmo cardíaco acelerado: entenda o que causa a taquicardia

Ilustração de coração com ponteiros indicando taquicardia e ritmo cardíaco acelerado em repouso
WhatsApp
Pinterest
LinkedIn
X


Sentir o ritmo cardíaco acelerado pode assustar — e com razão. A taquicardia acontece quando a frequência cardíaca em repouso ultrapassa 100 batimentos por minuto (bpm) e pode ter desde causas benignas, como exercício e ansiedade, até arritmias que exigem tratamento específico. Entender o que causa a taquicardia, como reconhecer sinais de alerta e quais exames confirmarão o diagnóstico é essencial para tomar decisões rápidas e seguras.

O que é taquicardia e quando preocupar

A taquicardia é um aumento da frequência cardíaca em repouso acima de 100 bpm. Nem toda aceleração é doença: o corpo acelera o coração para entregar oxigênio em situações como exercício, febre, estresse ou cafeína (chamada de taquicardia sinusal). O alerta acende quando o ritmo vem de arritmias (problemas no sistema elétrico do coração) ou quando a aceleração aparece em repouso, sem motivo aparente, acompanhada de dor no peito, falta de ar, tontura ou desmaio.


A regra de ouro: se o coração acelera com sintomas intensos ou por tempo prolongado, procure avaliação imediata.

Tipos comuns de taquicardia (e por que isso importa)

Saber o tipo de taquicardia orienta a conduta. Abaixo, um resumo:

Taquicardia sinusal

  • O que é: resposta natural do marcapasso do coração (nó sinusal) a estímulos como exercício, febre, ansiedade, dor, desidratação, cafeína, gestação, anemia ou hipertireoidismo.
  • Sinal de alerta: quando é inadequada (muito alta em repouso, sem causa clara), chama-se taquicardia sinusal inapropriada.

Taquicardias supraventriculares (TSV/SVT)

  • Onde nascem: nas câmaras superiores (átrios).
  • Exemplos: TPSV/PSVT, flutter atrial, fibrilação atrial.
  • Como se manifestam: palpitações súbitas, sensação de “bate-bate” no peito; às vezes melhoram com manobras vagais (respiração e esforço tipo Valsalva).
  • Tratamento: pode incluir adenosina em ambiente médico, antiarrítmicos e, em casos recorrentes, ablação por cateter.

Taquicardias ventriculares (TV)

  • Onde nascem: nos ventrículos.
  • Gravidade: podem ser potencialmente fatais, exigindo cardioversão e investigação de doença estrutural do coração (ex.: infarto prévio, cardiomiopatias).

Tabela comparativa: principais taquicardias

TipoOnde surgePossíveis causasRiscoCondutas típicas
Taquicardia sinusalNó sinusalExercício, febre, ansiedade, dor, anemia, hipotensão, cafeína, fármacosBaixo (depende da causa)Tratar causa, hidratar, reduzir estimulantes
SVT/PSVTÁtrios/junção AVVias elétricas acessórias, reentradaVariávelManobras vagais, adenosina, ablação se recorrente
Flutter/Fibrilação atrialÁtriosIdade, hipertensão, apneia do sono, tireoideAVE/emboliaControle de frequência/ritmo + anticoagulação conforme risco
Taquicardia ventricularVentrículosDoença estrutural, isquemia, cardiomiopatiasAltoCardioversão, antiarrítmicos, CDI, tratar a causa

Causas de ritmo cardíaco acelerado: do cotidiano às doenças

  • Fisiológicas (normal do corpo): atividade física, emoções, estresse agudo, calor, desidratação, cafeína, nicotina, álcool.
  • Clínicas e hormonais: febre, infecções, anemia, hipertireoidismo, hipoglicemia, gravidez, apneia do sono.
  • Cardíacas/arrítmicas: flutter, fibrilação atrial, taquicardia ventricular.
  • Medicamentos e substâncias: descongestionantes com pseudoefedrina, alguns broncodilatadores, suplementos “pré-treino”, drogas estimulantes (p.ex., cocaína, anfetaminas).

Dica prática: se a taquicardia aparece sempre após café forte, pré-treino ou noites mal dormidas, investir em higiene do sono, hidratação e redução de estimulantes costuma ajudar — mas não substitui avaliação médica quando há sintomas relevantes.

Sintomas de taquicardia (e sinais vermelhos)

  • Comuns: palpitações, frequência cardíaca alta percebida no pulso, sensação de “vibração” no peito, ansiedade, cansaço.
  • De gravidade: dor ou pressão no peito, falta de ar, tontura intensa, desmaio, palidez, sudorese fria. Nessas situações, procure emergência.

Como o médico diagnostica: do pulso ao eletro

O diagnóstico começa com história clínica e exame físico, incluindo contagem de pulso e pressão arterial. Os exames mais usados são:

  • Eletrocardiograma (ECG): confirma o tipo de taquicardia.
  • Holter/monitor de eventos: registra arritmias intermitentes ao longo de 24h ou mais.
  • Ecocardiograma: avalia a estrutura e função do coração.
  • Exames laboratoriais: hemograma (anemia), eletrólitos, tireoide, marcadores de inflamação.
  • estes específicos: estudo eletrofisiológico (quando se considera ablação).

Tratamentos: do autocuidado à ablação por cateter

O tratamento depende do tipo e da causa.

Medidas de autocuidado (casos leves, sem sinais de gravidade)

  • Hidratar-se e corrigir desidratação.
  • Reduzir cafeína, álcool e nicotina.
  • Dormir melhor (higiene do sono). Respiração diafragmática, mindfulness e manejo do estresse.
  • Tratar febre e infecções.

Tratamentos médicos

  • Manobras vagais (orientadas por profissional) para Taquicardias supraventriculares.
  • Adenosina em Taquicadia supraventricular regular de complexo estreito (ambiente monitorado).
  • Betabloqueadores ou bloqueadores de canal de cálcio para controle de frequência. Antiarrítmicos específicos conforme o caso.
  • Cardioversão elétrica em taquiarritmias instáveis.
  • Ablação por cateter: cura muitas Taquicardias supraventriculares e alguns flutters com altas taxas de sucesso.
  • CDI (desfibrilador implantável) em pacientes com risco para Taquicardia Ventricular grave.

Quando ir à emergência sem esperar

Procure atendimento imediato se houver taquicardia acompanhada de:

  • Dor no peito, falta de ar, desmaio ou quase-desmaio.
  • Episódio mais longo do que o habitual em quem já tem diagnóstico de Taquicardia supraventricular.
  • Frequência persistentemente >150–160 bpm em repouso, sobretudo com mal-estar.

Prevenção e estilo de vida: como reduzir episódios

  • Hidrate-se (água ao longo do dia).
  • Sono: 7–9 horas/noite, horários regulares.
  • Evite estimulantes em excesso (cafeína, energéticos, nicotina). Gerencie o estresse: respiração 4-7-8, meditação, pausas ativas.
  • Exercício regular (aeróbico + força) — com liberação médica se você já teve arritmias.
  • Trate condições de base: anemia, tireoide, apneia do sono, hipertensão.

Mitos e verdades sobre frequência cardíaca alta

  • “Todo ritmo acelerado é perigoso”: Mito. Nem toda taquicardia é arritmia; muitas são respostas fisiológicas.
  • “Se eu fizer força para tossir, passa”: Parcial. Algumas Taquicardias supraventriculares respondem a manobras vagais, mas isso deve ser orientado por profissional e não substitui atendimento se houver sintomas graves.
  • “Taquicardia Ventricular (TV) sempre mata”: Mito. É grave, mas há tratamentos eficazes (cardioversão, antiarrítmicos, CDI).

Casos especiais: esportes, gravidez e doenças estruturais

  • Atletas: podem ter variações de frequência em repouso e respostas intensas no treino. Avaliação é importante quando há palpitações com tontura ou desmaio.
  • Gravidez: aumento de volume sanguíneo e hormônios podem elevar os batimentos; investigue se houver sintomas ou arritmia prévia.
  • Cardiopatias estruturais (ex.: pós-infarto, Miocardiopatia hipertrófica): maior risco de TV e eventos — exigem seguimento especializado e, às vezes, CDI.

Conclusão

Taquicardia é um sinal — e, às vezes, pode representar uma arritmia — com várias causas. Distinguir respostas fisiológicas (ex.: exercício, febre) de taquiarritmias (ex.: Taquicardia supraventricular ou Taquicardia Ventricular) é crucial para agir com segurança. Se você sentir ritmo cardíaco acelerado acompanhado de dor no peito, falta de ar, tontura ou desmaio, procure emergência. Para os demais casos, investigar a causa e ajustar estilo de vida. Consulte sempre um cardiologista para um plano individualizado.


Aviso médico: este conteúdo é educativo e não substitui avaliação profissional. Em emergências, procure atendimento imediato.